Consequências psicológicas da quarentena por Ebola

 

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Na segunda-feira, a família de Thomas Eric Duncan, o primeiro homem a ser diagnosticado com Ebola em solo americano, depois de 21 dias de quarentena finalmente foi capaz de sair de sua casa. Em todo os Estados Unidos, no entanto, outras pessoas que possam ter entrado em contato com o vírus ainda estão confinadas em suas casas: um escritor de romances, um missionário e uma equipe de reportagem de televisão. É o melhor para a saúde pública. Mas durante a quarentena, o que acontece com a saúde mental de uma pessoa? Qual é o impacto psicológico de ser um prisioneiro em sua própria casa, isolado e com medo, por três longas semanas?


Cerca de uma década atrás, no auge da epidemia de SARS, uma pesquisadora em Toronto acreditou que a valia a pena perguntar. Laura Hawryluck, professora de medicina intensiva na Universidade de Toronto, examinou 129 pessoas (em sua maioria profissionais de saúde) que haviam sido colocados em quarentena, por meio de testes psicométricos projetados para detectar sinais de depressão e TEPT. Hawryluck descobriu que cerca de 29 por cento dos entrevistados apresentaram sinais de PTSD e 31 por cento apresentavam sinais de depressão após o período de isolamento. Ela publicou suas descobertas em Doenças Infecciosas Emergentes em 2004 “Uma das coisas que sempre ouvia repetidamente – as pessoas nos disseram que parecia que eles estavam sendo vistos como a própria praga”, disse Hawryluck. “E esse efeito psicológico sobre as pessoas foi muito angustiante.
“Em termos de PTSD, era muita ansiedade, muitos pesadelos”, disse ela. “E em termos de depressão, era aquela sensação de estar completamente sozinho e isolado, com essa preocupação de ´´Será que alguém estará lá para mim se eu ficar doente?”
Estamos começando a ouvir relatos que definem como a quarentena causa sofrimento psicológico. Um homem do Arizona, que se colocou de quarentena (voluntariamente) depois de uma viagem missionária para a Libéria, já está recebendo ameaças de comentadores em um site de notícias local; eles estão sugerindo que a sua casa deve ser queimada, disse ao New York Times. Esse jornal também relatou a história da filha da namorada de Duncan, que falou ao repórter que as realidades da quarentena podem variar desde o mundano (crianças que não param de ofender) ao potencialmente inseguro (a geladeira quebrada cheia de comida podre).
Axl Goode, um dançarino exótico e potencialmente exposto ao Ebola em um avião, escreveu isto no domingo:
Eu tenho 26 anos e posso estar morto em menos de duas semanas. Isso me assusta muito. Na verdade, minhas mãos estão tremendo enquanto escrevo isso. Porém estou me forçando, porque escrever é a maneira mais eficaz para aliviar a tensão. Não vou entrar em pânico. Eu sei que fiz o melhor que podia para proteger aqueles me são próximos e meu destino está fora de minhas mãos. Mas e quanto aqueles que me importo? O que isso vai fazer para a minha mãe, pai e irmãos?
Goode escreveu essa mensagem em sua página no GoFundMe, que ele criou quando percebeu que perderia mais de três semanas de trabalho, devido à quarentena. Preocupações financeiras como essa só se acumulam ao stress. De fato, no estudo de Hawryluck, ela encontrou uma associação especialmente forte entre baixa renda e maior sofrimento psíquico.
E embora Hawryluck não tenha formalmente acompanhado a continuação da vida das pessoas em seu estudo, ela suspeita que, para muitos deles, o pedágio mental do isolamento foi de longa duração. “Eu posso dizer-lhe informalmente que, muitos deles tiveram problemas emocionais duradouros”, disse Hawryluck. “Eles tiveram problemas para voltar ao trabalho, e alguns deles nem conseguiram voltar.”
Para ser bem claro, Hawryluck não está argumentando que as autoridades de saúde não devem usar a quarentena na luta contra as doenças infecciosas; em sua pesquisa, ela escreve que a principal razão da SARS ser “contida com sucesso em todo o mundo”, foi por conta dessas medidas de quarentena. Mas ela também afirma que existem problemas na saúde psicológica dos envolvidos.
O que poderia ser melhorado? Por um lado, psicólogos ou assistentes sociais, poderiam ser disponibilizados, disse Harry Hull, um epidemiologista que já foi o oficial de inteligência epidêmica nos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. “Estamos focados nas medidas de controle de infecção, o que é fundamental, mas não podemos nos esquecer que a saúde mental dessas pessoas também é importante, disse Hawryluck.. “Precisamos cuidar uns dos outros, e não apenas empurrar alguém para fora do rebanho ou para fora do grupo.”

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