A SOMA DE TODOS OS SEUS MEDOS

Por Santiago Gomes
medos
Imagine-se chegar à sua casa após um dia inteiro de trabalho duro e se deparar com seu parceiro, ou parceira, em uma banheira limpinha aguardando para que faça companhia. Pergunta: você entraria com toda a sujeira impregnada do dia ou se lavaria antes para, logo em seguida, acompanha-la (o), para um relaxante momento a dois?





Pois é… Penso que o natural seja se lavar antes para evitar que a sujeira da rua contamine a água limpa… Correto? Oquei… Imagine agora que a banheira trata-se do relacionamento que criou com o outro e, a sujeira a qual trouxe da rua, sejam os miasmas provenientes de relações passadas ou do conhecimento sobre relações de outrem… É onde quero chegar com o título desse texto.
Tenho observado que muitas pessoas não se dão conta do acúmulo das más experiências provindas do passado e, por consequência dessa desatenção, habituam-se a determinados comportamentos como um viés único o qual, naturalmente, poderão conduzir uma nova relação ao mesmo fim das anteriores.


Exemplo: um homem descobre que sua ex-namorada, sempre que chegava em casa fora do horário previsto, era porque estava com o amante, logo, se sua nova parceira chegar tarde, irá pressupor que esta também possuí um. Na psicologia behaviorista esses conceitos comportamentais são denominados “pareamento”, uma vez que o indivíduo pareia um estímulo neutro a uma consequência aversiva.
No que diz respeito ao “condicionamento operante” proveniente das teorias do psicólogo Burrhus Frederic Skinner, podemos encontrar bases teóricas consistentes que alicerçam a compreensão acerca desse tipo de reação a qual, dependendo do impacto da consequência para o sujeito, parece cristalizar em seu banco de memória fazendo com que os comportamentos pareçam instintivos, mesmo que a relação estímulo/resposta pareça ser neutra.
Por isso revela-se a importância em se conhecer o histórico da pessoa (história de vida), para poder de forma efetiva compreender o que levou a gerar determinados tipos de reações “espontâneas” as quais muitas vezes julgamos serem sem sentido. Naturalmente, a investigação acerca da origem (comportamento), pode nos guiar à compreensão da sua relevância no que se refere à proteção para o próprio sujeito ou mesmo, em outros casos, para a obtenção de prazer secundário.



É urgente que o individuo vivencie o pós relacionamento com integridade e resolva as pendencias para transformar experiências traumáticas em aprendizados, ou seja, tratar para que o passado não interfira de modo a corromper o presente.
Em seu livro “O poder do agora” de Eckhart Tolle, a elucidação do ser se dá no aqui e agora e, servindo-me de um pequeno trecho de um dos livros de Freud “Os neuróticos são pessoas ‘possuídas’ pela memória, memória que os obriga a viver vendo o mundo da forma como o viram num dia passado. A memória nos torna prisioneiros do passado, não nos deixa perceber a ‘eterna novidade do mundo’. Os neuróticos são prisioneiros de sua mesmice, por isso são confiáveis: serão hoje e amanhã o que foram ontem.”
Segundo a Psicanálise, por exemplo, é preciso esquecer o que se sabe a fim de ver o que não se via. A terapia bem sucedida, no meu ponto de vista, é aquela que leva o indivíduo a desaprender suas memórias e ver o mundo como nunca havia imaginado. Nesse sentido, e em muitos outros, a fenomenologia se harmoniza com essa realidade “imediata”, a qual busca compreender a maneira como cada pessoa dá significado aos aspectos de sua vida (hoje), para que possa, se for o caso, transformá-la.
Onde quero chegar com essa dissertação é ao lugar de importância que consiste em tomar verdadeira consciência para poder SER integralmente a soma dos aprendizados e não mais um reflexo dos traumas. Trabalhando e vivenciando esse cenário dia após dia, percebo a necessidade em recolher-se e “lavar-se” antes de entrar na banheira, ou seja, curar-se dos traumas oriundos das relações passadas para que sejam verdadeiramente superados.
Do contrário, podemos fazer das próximas relações, algo como: “apenas acrescento de zeros depois da vírgula”, ou seja, nada foi aprendido com o passado condenando-nos a uma sucessão de erros recorrentes os quais nos guiam ao inevitável desolamento e afastamento do outro.
Mantendo o foco no hoje e exponenciado pelas experiências, percebo o relacionamento como uma grande aventura a se viver onde os prazeres e desafios encontram-se numa simbiose afim, sem me importar com o tempo (normalmente as pessoas tendem a quererem eternizar o relacionamento… Mais uma causa da frustração), da compreensão de que, relacionar-se, significa estar aberto a aprender e ensinar o outro; onde a paixão e o prazer são apenas ardis para uma evolução maior.
Sentimentos e relacionamentos são duas coisas que interagem com distinção, ou seja, mesmo sentindo (o que quer que se sinta pelo outro), é urgente saber perceber quando um relacionamento (a soma de 1+1), encontra-se esgotada. Insistir em permanecer em um ambiente (relação), esgotado, é condenar-se à miséria emocional a qual perdurará até que se obtenha forças para mudar… A ironia é que, quanto mais ali permanecer, mais enfraquecido estará.

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