Me deixa chorar? Os lutos que a sociedade invalida

Perder um ente querido causa umas das dores mais profundas que um ser humano pode experienciar. O mundo perde o colorido e o brilho, tudo fica cinza. E nesse momento precisamos de todo apoio, amor e compreensão.





Comumente, quando perdemos alguém muito próximo a nós, somos acolhidos pelas pessoas que fazem parte do nosso círculo de convivência, e até certo ponto – sim, é isso mesmo, até certo ponto; mas isso é assunto para outro artigo – as pessoas entendem as nossas demonstrações de sofrimento, e solidarizam-se com a nossa dor.

Dessa forma, estamos então, liberados pela sociedade para demonstrar e externalizar a tristeza que habita em nós, sem sermos mal vistos, ou mal interpretados pelas pessoas; pelo menos, na maioria dos casos é assim que funciona. No entanto, existem alguns lutos e perdas, que não nos é permitido sentir, vivenciar e externalizar. São lutos em que o sentimento é velado e escondido; não somos acolhidos em nossa dor, não nos é permitido sofrer, somos incompreendidos em nossa dor, e julgados pelo nosso sofrimento.





Nesse momento, se você nunca passou por uma situação assim, pode estar se perguntando: Isso acontece mesmo? Sim, acontece! É o caso da perda por aborto espontâneo, de um animal de estimação, do sogro ou sogra, do amante, entre outros.

Falo a respeito destas perdas, baseado em meus conhecimentos em Psicologia e Tanatologia, mas não apenas, falo com a propriedade de quem vivenciou três perdas veladas.

Não é hábito em meus artigos, fazer relatos de minhas experiências pessoais, mas, nesse caso específico, minhas experiências contribuem para uma melhor compreensão do assunto.

Contextualizando para que os leitores entendam, tive dois abortos espontâneos, com intervalo de poucos meses entre eles. Poucas foram as pessoas que me acolheram nessa dor, e que viam como válido o meu sofrimento. Ouvi frases do tipo: “isso não é nada, daqui a pouco você engravida novamente”, “pior se acontecesse mais para a frente na gestação”, “pior se já tivesse nascido”, além de olhares de reprovação em relação a tristeza que persistia. É claro que as pessoas não fazem isso por maldade, e sim, por uma cultura que não entende o aborto como uma perda de fato. A sociedade invalida o sofrimento pela perda de filhos que ainda não nasceram – os abortos – e sim, são filhos! Não é porque a vida que carregamos não está totalmente formada dentro de nós, ou ainda não nasceu, que as mães e pais deixam de sofrerem suas perdas por isso. Há investimento de amor nessa vida que vai chegar! Há expectativas!





Recentemente, também perdi minha sogra, e esse foi mais um luto velado, impedido pela sociedade. Escutei frases do tipo: “vocês eram muito próximas?”, “moravam juntas?”; além de olhares de estranheza por qualquer demonstração pública de tristeza e sofrimento. E isso não é justo para com a pessoa que perde, que está sofrendo…

É necessário que as pessoas comecem a olhar com menos estranheza e preconceito, e com mais cuidado, carinho, e principalmente respeito, para o sofrimento advindo dessas, e de outras perdas. As pessoas não sofrem unicamente ao perderem pai, mãe, irmãos, e filhos maiores.

Independente de quem se perde, é necessário acolher o enlutado; sendo esta uma reflexão que a sociedade precisa exercitar ao lidar com as pessoas enlutadas.

Bem, se você leitor, já passou por alguma situação similar, deixe seu comentário, e para quem não vivenciou uma situação assim, dê sua opinião sobre o assunto.

About the Author Catiane de Oliveira

Psicóloga, Pós-Graduanda em Psicopedagogia Institucional, Formação em Brinquedista e Organização de Brinquedoteca, Formação em Tanatologia, Graduanda em Licenciatura - Letras Português/Inglês.

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