O casamento vale a pena para a mulher?

Um olhar superficial na forma como o casamento é representado na cultura popular pode levar à conclusão de que acabar no altar é o maior desejo feminino. Revistas de casamento são destinadas quase que exclusivamente às noivas, e não aos noivos. A atração central no desfile de casamento é o vestido da noiva, enquanto o traje do noivo recebe pouco investimento. Rainha da cultura pop, Beyoncé, alfinetou os homens com a declaração de que se eles realmente gostam de uma garota, precisam colocar um anel nela.


Os homens, por outro lado, são descritos frequentemente como fóbicos ao compromisso, com medo de serem chicoteados ou enganados no casamento, ou de serem arrastados para o altar contra a sua natureza promíscua, que abomina a monogamia de longo prazo. A noção de “crise de meia-idade”, durante a qual os homens se sentem impelidos a abandonar suas antigas esposas para um novo modelo de troféu, mais jovem, é também uma alegoria da cultura familiar.

Temos sido levados a acreditar que o casamento é um habitat natural para as mulheres, mas uma gaiola sufocante para os homens. Assim diz o imaginário popular. No entanto, no mundo real dos fatos, as coisas não são bem assim.


Primeiro, indo na contra mão da visão de casamento como o paraíso e refúgio do sexo feminino, o fato é que o casamento realmente parece beneficiar mais os homens do que as mulheres. Uma pesquisa mostrou que os “benefícios do casamento” – melhoras na saúde, riqueza e felicidade, que são frequentemente associados com o status – são desproporcionais nos homens: homens casados ​​estão em melhor situação do que homens solteiros. As mulheres casadas, por outro lado, não estão melhores do que as mulheres solteiras.

Em segundo lugar, em contraste com o mito de que o casamento é o objetivo sagrado de uma mulher, a realidade é que cerca de dois terços dos divórcios são iniciados pela mulher. Isto é verdade não só para as mais jovens: Uma pesquisa recente com 1147 homens e mulheres entre 40-79 anos que experimentaram um divórcio em seu 40, 50, ou 60 anos, constatou que 66% das mulheres disseram que foram elas quem iniciou a separação.


Uma outra pesquisa sugere que há algo único no casamento – além dos julgamentos e da convivência diária com outra pessoa – que podem torná-lo menos hospitaleiro para as mulheres.

Um artigo escrito pelo sociólogo Michael J. Rosenfeld analisou dados longitudinais de uma pesquisa sobre Como Casais se Formam e Permanecem Juntos, com uma amostra nacional de 2.262 adultos em relações heterossexuais a partir de 2009 até o início de 2015.

Os resultados revelaram um padrão intrigante: Como esperado, as mulheres iniciaram cerca de dois terços (69%) dos rompimentos em casamentos heterossexuais. No entanto, a tendência de gênero nos rompimentos de relacionamento se manteve apenas nos casamentos e não em outros tipos de relacionamentos não matrimoniais. Além disso, as mulheres casadas, mas que não tinham outros relacionamentos, relataram níveis mais baixos de satisfação.


De acordo com Rosenfeld, estes dados sugerem que a tendência das mulheres para iniciar o rompimento não é uma característica inerente das relações macho-fêmea. Pelo contrário, é uma característica do casamento macho-fêmea. Esta constatação parece apoiar a noção de que as mulheres experimentam a instituição do casamento como opressiva, em grande parte porque ele emergiu, e ainda carrega a marca, de um sistema de subjugação feminina.

Rosenfeld observa que a legislação do casamento originalmente se baseou na suposição comum de que a esposa era propriedade do marido. Os últimos vestígios dessa tradição do direito comum subordinando esposas a seus maridos, como permitir o estupro no casamento, foram eliminados apenas no final de 1970. A maioria das mulheres continuam a ter o sobrenome do marido quando se casam, uma prática exigida por lei em muitos países.

Assim como não podemos construir sobre estruturas antigas sem antes considerar as limitações dos materiais de construção antigos, também é difícil sustentar velhas tradições sem manter as antigas visões de mundo e hábitos de onde elas surgiram. Os fantasmas de subjugação feminina assombram os corredores do casamento contemporâneo, em detrimento das mulheres casadas.

No final das contas, estes dados pintam um retrato do casamento como um complexo comércio em que as mulheres, muitas vezes, desempenham um papel paradoxal: Elas trabalham mais por uma parcela menor dos benefícios, o que pode explicar o porquê elas, geralmente, são as mais ansiosas para se casarem e, muitas vezes, são também as mais ansiosas para terminá-lo.

Fonte: PsychologyToday traduzido e adaptado por Psiconlinews

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