Como criar uma criança com autoestima sem torná-la narcisista

criança narcisista

Desde os anos 70, a autoestima tem sido um tema supervalorizado entre pais, professores e psicólogos. Os pais ouvem por aí que precisam elevar a autoestima de seus filhos para que eles possam se tornar adultos felizes e produtivos.

Já os educadores acreditam que a autoestima é a chave para o sucesso acadêmico, então tentam incutir nas crianças desde cedo o senso de valor próprio para que se tornem “crianças melhores”.  Enquanto os psicoterapeutas incentivam as crianças a criarem um senso de autoestima. Muitas pesquisas demonstram que realmente há uma grande relação entre a autoestima e o bem-estar subjetivo, ou o bem-estar geral. A questão é que estamos, sem querer, criando uma geração de narcisistas.

Alguns psicólogos afirmam que existem certos traços genéticos que influenciam na formação da personalidade, outros defendem a tese de que a personalidade é moldada ao longo do tempo, ou seja, a personalidade é mutável. Já outra parcela de psicólogos acredita que a personalidade é fluída na infância e formada entre o final da adolescência e início da vida adulta.

Brummelman (psicólogo e pesquisador) admite que acredita na existência de um componente genético que influencia no desenvolvimento de alguns traços de nossa personalidade, tanto com relação à autoestima geral quanto com relação ao narcismo. No entanto, ele defende que o fator mais importante reside na interação da criança com os pais, professores e outros adultos relevantes na sua criação, ou seja, tudo depende do ambiente em que a criança cresce. Embora a autoestima e o narcisismo tenham algumas características bem semelhantes, em princípio elas são bem diferentes. Assim, quando tentamos incutir autoestima em nossas crianças, podemos estar na verdade encorajando-as a desenvolver tendências narcisistas.

O senso comum diz que o narcisismo é uma forma exagerada da autoestima, mas os pesquisadores afirmam que a diferença vai muito além disso. Tanto a autoestima quanto o narcisismo se baseiam na percepção que temos a respeito de como somos vistos pelos outros. No entanto, tanto os narcisistas quanto as pessoas que têm uma autoestima elevada, percebem o mundo social de uma forma diferente dos demais e isso faz toda a diferença em como eles veem a si próprios e aos outros.

Os narcisistas enxergam seu mundo de forma piramidal, eles veem uma hierarquia em tudo e, adivinhem só, eles sempre se veem no topo ou planejam estar lá. Para eles as pessoas não são iguais, existe sempre o mais fraco e o mais forte, dessa forma eles se sentem autorizados a passar por cima dos outros para alcançar o almejado “topo”. Por outro lado, as pessoas com elevada autoestima percebem o mundo de maneira horizontal, e não querem passar a frente dos demais, querem apenas se dar bem. Em outras palavras, veem os relacionamentos como fins em si mesmos, e não como um meio.

Em suma, os narcisistas se vêem como superiores, enquanto as pessoas com alta autoestima preferem se ver como dignas. Os sinais de autoestima e narcisismo começam a aparecer em torno dos sete anos de idade. Este é o momento em que as crianças começam a desenvolver o sentido global, bem como habilidades de percepção social, começam a comparar-se com os outros e intuir como são vistas por eles. Segundo os pesquisadores, a adolescência é o marco final para que a pessoa desenvolva uma autoestima elevada ou se torne um narcisista.

Para testar esta teoria, os pesquisadores realizaram um estudo de longo prazo no qual avaliaram a personalidade das crianças ao mesmo tempo em que observavam a interação delas com os pais. Eles descobriram que as crianças que desenvolveram uma autoestima elevada foram criadas por pais bondosos, que manifestavam carinho por elas, no entanto, não elogiavam os filhos excessivamente. Já as crianças que desenvolveram uma personalidade narcisista tiveram pais que as supervalorizavam e que constantemente as comparavam com outras crianças, supervalorizando os seus ganhos com relação às demais.

Brummelman e seus colegas propõem várias intervenções para ajudar as crianças a desenvolverem uma autoestima elevada, livre de tendências narcisistas.

Em primeiro lugar eles sugerem que os pais e professores elogiem as crianças por seus méritos, mas sem compará-las com outras crianças. A diferença entre “bom trabalho” e “você é o melhor” pode parecer sutil, no entanto, a primeira transmite um senso de merecimento, enquanto a segunda transmite um senso de superioridade que é o núcleo do narcisismo.

Em segundo lugar, os pais também devem auxiliar as crianças na forma como elas pensam, encorajando-as a pensar que são iguais às outras e tão merecedoras quanto elas, em vez de estimulá-las a pensar que são superiores.

A terceira intervenção que os pesquisadores propõem é destinada para aquelas crianças que apresentam sinais de baixa autoestima. Estas crianças precisam de adultos significativos em suas vidas para ajudá-las a interpretar melhor as observações que fazem sobre si mesmas e na forma como se percebem vistas pelos outros. As pessoas que têm baixa autoestima, tanto crianças como adultos, tendem a ignorar elogios e se criticarem demais. Portanto. os mais velhos precisam assegurar a essas crianças que elas são dignas dos comentários positivos e que precisam aceitar a crítica como um feedback construtivo. Todos esses cuidados vão servir para que essas crianças se tornem adultos com uma autoestima elevada, e não apenas narcisistas.

Fonte: PsychologyToday traduzido e adaptado por Psiconlinews

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