O experimento de aprisionamento de Stanford

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Foi lançado em 2015 o filme “O experimento de aprisionamento de Stanford“. O longa retrata a famosa experiência do professor Philip Zimbardo realizado na Universidade de Stanford, no qual alguns jovens foram recrutados para serem guardas e prisioneiros em uma prisão improvisada nos corredores da universidade.

A experiência prevista para ser realizada em duas semanas foi encerrada de maneira dramática após apenas 6 dias (e podemos considerar que mesmo estes 6 dias talvez tenham sido demais) e teve grande repercussão sobre a maneira pela qual entendemos o comportamento humano.

O que chama atenção na experiência é que nenhuma das pessoas envolvidas tinham traços psicóticos ou pervertidos, porém foram capazes de verdadeiras atrocidades do ponto de vista ético em relação à outras pessoas. Os guardas encarnaram um papel de verdadeiros torturadores enquanto que os prisioneiros cada vez mais entraram no papel de torturados encenando o que o psicólogo Martin Seligman designa de impotência aprendida.

Assistir ao filme é uma experiência torturante. O que assusta não é apenas a atmosfera muito bem elaborada pelo diretor que nos faz sentir verdadeiro sufoco enquanto as imagens de violência vão aparecendo, mas sim a aparição lenta e gradual da capacidade humana para a destruição e violência, o “monstro” de cada um.

Não foi solicitado à nenhum dos guardas que fossem violentos, apenas que cumprissem as regras e mantivessem a disciplina. Porém, a cada momento vemos, no filme, uma lógica de degradação moral se tornando mais evidente. Perceber isso nos olhos e atuação de cada um dos atores me fez imaginar como o experimento de fato foi, o que se passou na mente de cada um deles, o que cada um sentiu.

No filme, ao final, aparecem cenas dos jovens refletindo sobre o que fizeram. Um deles, o guarda mais perverso, disse que o que mais o espantou foi que ninguém pediu à ele para parar com seus abusos. Obviamente, podemos objetar que ele deveria ter um senso ético e se frear, porém também me fez refletir que muitas pessoas não tem um senso ético ou – pior ainda – a ética que seguem os norteia, justamente para esta degradação.

Assistir ao filme me fez pensar sobre a frase atribuída a Martin Luther King: “o que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. Sustentar aquilo que é bom, me parece, dá mais trabalho que agir de maneira má. O trabalho para tirar uma vida é muito menor do que o trabalho para dar a vida. O que o experimento de Stanford mostrou para mim não foi apenas a questão do abuso de poder, mas, principalmente, que para o bem prevalecer é necessário muito trabalho.

Em apenas 6 dias foi criada uma situação completamente amoral onde os prisioneiros cada vez mais perdiam sua identidade, porém os guardas também. Quem vê o filme tende a simpatizar com os prisioneiros (essa também foi a minha reação), porém existe algo de pernicioso nisso. O fato é que tanto os prisioneiros quanto os guardas eram “pessoas de bem”, assim sendo, ambos foram envolvidos em uma atmosfera amoral, decadente. O fato dos prisioneiros, em apenas seis dias, sentirem algo tão ruim, também mostra o quão rápido a moral dos guardas foi deteriorada.

Outro fator importante foi o papel da rebeldia que se mostrou, apenas, combustível para a depravação moral aumentar. Violência gera violência, como diz o ditado. Os ataques não eram os gritos dos bons, apenas o lado mau dos prisioneiros falando. É difícil compreender o que é uma atitude boa, conciliatória quando níveis tão básicos de auto estima são atacados diretamente.

A mensagem que o filme me traz é que somos capazes do mal e do bem, dos atos mais virtuosos e dos mais corruptos. O preço a se pagar pela ética e pela moral é uma vigilância de nossas intenções e desejos, não no sentido de reprimir, mas no sentido de compreendê-las e entender a nossa natureza a cada momento.

 

About the Author Akim Rohula Neto

Akim Rohula Neto é natural de Curitiba onde nasceu e se criou. Descendente de russos e italianos desde cedo percebeu que as diferenças emocionais e na percepção de mundo podem trazer problemas e ser fonte de grande competências e conquistas. Realiza sua graduação em Psicologia na PUC-PR (1999-2003), no mesmo ano termina uma especialização em Psicologia Corporal no Instituto Reichiano (2000-2003) e em PNL (Programação Neurolingüística) com Leonardo Bueno (1999-2003). Mais tarde, sentindo a necessidade de uma compreensão maior sobre os fenômenos familiares busca no INTERCEF (2008-2010) a formação em Psicologia Sistêmica. Desde a graduação em 2004 trabalha com atendimento em psicoterapia para adolescentes e adultos e a partir de 2008 trabalha com casais e famílias. Além disso ministra palestras e workshops que visam o desenvolvimento de competências para desenvolvimento do auto domínio e da inteligência emocional.

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