Dicas para perder o medo de dirigir

Ter taquicardia ou sentir as mãos trêmulas só de pensar em ligar o carro é mais comum do que se imagina. Entenda por que e veja 11 passos para superar este obstáculo

Karina tirou carta por pressão da família, mas o carro fica na garagem da casa da família, no interior
Pisar no acelerador, trocar de marcha, dar seta, prestar atenção no veículo de trás e não deixar o motor morrer pode ser tarefa automática para milhões de pessoas diariamente, mas para outras é motivo de pânico. Entre o total de vítimas da chamada “síndrome do carro na garagem”, 85% são mulheres, entre 30 e 45 anos, e 15% são homens.


Endossava essa porcentagem a bancária Jandira Amaral, 60, que só tomou coragem para dirigir 25 anos depois de receber sua CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Antes disso, a carteira era apenas um documento que servia como comprovante de identidade ou CPF. “Quando saí do exame, estava muito motivada. Mas, assim que peguei no volante fora da autoescola, só fui criticada pelo meu marido. Eu não tinha liberdade de conduzir do meu jeito, o que acabou gerando um bloqueio, como se nada do que eu fizesse fosse bom o suficiente”, conta.

Esse, inclusive, é um dos perfis mais comuns entre as pessoas com medo de dirigir: confiáveis, organizadas, detalhistas, sensíveis, inteligentes e não muito abertas a críticas. “Gente com esses traços de personalidade não se permite errar. Mas a verdade é que dirigir é um aprendizado como falar, andar, ler e escrever, ou seja, é preciso praticar e respeitar seu próprio tempo. Vinte aulas não estão nem perto do mínimo para se ter domínio, é apenas o começo”, ressalta Cecília Bellina, psicóloga especializada em comportamento motorista e dona da clínica e escola “Perca o Medo de Dirigir”, em São Paulo.
É possível que os atingidos pela amaxofobia – esse é o nome técnico para o pavor de dirigir – tenham sido criados na época em que os automóveis eram relacionados à figura masculina ou sofrido algum acidente. “No entanto, esse é o menor grupo. O que foi constatado é que o acidente funciona como uma espécie de aval para que a pessoa seja mais bem compreendida pela sociedade”, alerta.
Sinal vermelho
Entro em pânico quando passo em ruas estreitas ou perto de veículos grandes, como caminhões ou ônibus
A publicitária Karina Perussi, 26, cedeu às pressões da família aos 18 anos e foi à autoescola para conseguir sua habilitação. Conseguiu depois de quatro tentativas. “Sou distraída, não consigo prestar atenção em tudo ao mesmo tempo e não tenho senso de espaço e de direção. Entro em pânico quando passo em ruas estreitas ou perto de veículos grandes, como caminhões ou ônibus”, confessa. Segundo Neuza, essas são as dificuldades mais frequentes, seguidas de receio de não dominar o veículo e da atitude de outros motoristas, trocar de faixa, manobrar para estacionar e achar que o carro vai voltar quando estiver em uma rampa.
Apesar de ter ganhado um Escort do avô, que fica parado em Jales, cidade do interior de São Paulo,

ela se sente confortável e segura no transporte público de São Paulo – mesmo que precise de um trem, um metrô e um ônibus para voltar do trabalho. “Lembro que um ex-namorado estava doente e me pediu para que o levasse ao hospital com o carro. Nem me atrevi e fomos caminhando até lá”.

Taquicardia, mãos e pernas trêmulas, boca seca, suor excessivo, dor de cabeça e de barriga são alguns dos principais sintomas. Mas o que mais atrapalhava a contadora Ana Clara Oriques, 27, que passou quatro vezes pelos olhos do examinador, em 2005, era o bloqueio mental. Simplesmente não sabia como agir. “A última vez em que sentei na poltrona do motorista foi há seis meses, quando eu e meu namorado estávamos na praia. Ele me incentivou e andei em linha reta, mas já surtei quando percebi que alguns carros se aproximavam”, relembra. “Acho que é de família, porque minha mãe também morria de medo até perceber que ela não tinha outra saída a não ser aprender. Quem sabe eu não tomo coragem com a necessidade?”

Todos os dias eu parava atrás de um caminhão de lixo porque não conseguia ultrapassá-lo. Os lixeiros riam de mim. Depois de alguns dias, decidi que iria em frente e fui aplaudida por eles
Sinal verde
Foi justamente a necessidade que fez Jandira respirar fundo e tentar de novo. Cansada de ficar preocupada esperando os filhos voltarem da faculdade em um ponto de ônibus isolado, enquanto havia um Fiat Uno sem uso na garagem, resolveu ela mesma buscá-los. Encontrou um instrutor com paciência para reensiná-la e, pouco a pouco, alcançava seus objetivos. “Só queria aprender o caminho para a universidade e para o supermercado, mas o instrutor fazia questão de frisar que eu poderia ir para onde eu quisesse”.
A tática dela, então, foi imaginar que ele estava ao seu lado para tranquilizá-la durante o trajeto. “Todos os dias, no mesmo horário, eu parava atrás de um caminhão de lixo porque não conseguia ultrapassá-lo. Os lixeiros riam de mim, ainda mais quando percebiam que eu estava falando sozinha, já que eu fingia que o professor estava no banco do carona. Depois de alguns dias parada no mesmo obstáculo, decidi que iria em frente e fui aplaudida por eles”, recorda, aos risos.
Karina não superou a fobia completamente. Ainda. Mas acredita que é questão de prática. “Certa vez, o carro afogou em um trevo da rodovia e um caminhão estava vindo em minha direção. Entrei em desespero e não conseguia dar a partida. Se meu pai não estivesse ao meu lado para ajudar, teríamos morrido”, relembra. Depois disso, não guiou mais na metrópole, mas dá suas voltinhas no interior sempre que pode. Pequenos passos. “Na realidade, o medo surgiu depois que reprovei pela segunda vez. Comecei a pensar que eu realmente era ruim, porque todo mundo passava no teste, menos eu”.
Como superar?
Segundo Cláudio Reis, professor de Psicologia cognitivo-comportamental da Univerdade Estadual Paulista (Unesp) de Assis, o medo é uma consequência. Portanto, as causas devem ser descobertas. “Ele costuma ser benéfico quando funciona como sistema de proteção, mas é considerado um problema – jamais uma doença! – quando alcança um nível acima da capacidade de enfrentamento”.
É por isso que existem autoescolas especializadas para pessoas já habilitadas, com aulas de direção e acompanhamento com psicólogos – algumas também incluem terapias em grupo. Não existe prazo preestabelecido para superar, mas o estimado é de três meses a um ano, ou 20 sessões (uma por semana), dependendo da técnica utilizada.

Veja 11 dicas práticas que ajudarão você a vencer o medo

 

1. Autoconhecimento e autocontrole são fundamentais. Permita-se errar e procure ser menos exigente, afinal, você está aprendendo.
2. Faça exercícios físicos ou relaxamento muscular para o corpo produzir endorfinas capazes de neutralizar a química da ansiedade, chamada noradrenalina.
3. Aproxime-se de seu carro dentro da garagem. Comece aos poucos: entre, ajuste o banco e familiarize-se.
4. Ainda dentro da garagem, ligue o automóvel e leve-o para a frente e para trás.
5. Dê uma volta no quarteirão, de preferência em horários sem movimento e em ruas tranquilas. Quando perceber que a ansiedade durante o percurso é nula, ande por dois quarteirões e, então, pelo bairro.
6. Marque em sua agenda pelo menos duas vezes por semana para conduzir seu carro, como se fosse uma tarefa do dia a dia – até que se torne um hábito.
7. Quando se sentir mais confiante, inicie trajetos maiores. Imponha dez diferentes destinos em ordem crescente de dificuldade: padaria, supermercado, trabalho e assim por diante.
8. Não se assuste com a continuação de alguns sintomas, a exemplo de taquicardia, boca seca ou mãos trêmulas. Eles tendem a diminuir com o tempo e a prática.
9. Não prove nada a ninguém para evitar aumentar as expectativas e, consequentemente, a ansiedade.
10. Convide um amigo para acompanhá-lo apenas se ele for calmo e não privar sua liberdade como motorista.
11. Se o medo impede que você comece sozinho, peça ajuda a um profissional.

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