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Relato de Graziela: Nada é por acaso e o acaso me encontrou

Relato de Graziela:
Achei muito bacana um texto que li na página do face sobre síndrome do pânico e gostei da dica que talvez escrevendo minha história seria uma maneira bacana de desabafar e também ajudar as pessoas.
relato
Apesar de desde de pequena ter medo do escuro e não dormir bem (pesadelos, via vultos e era sonambula) sempre tive o apoio dos meus pais, tanto que minha mãe deitava ao meu lado para que eu conseguisse dormir e até fazia massagem. 
Era uma garota extrovertida, tinha facilidade para fazer amigos, uma espécie de queridinha “quem não gosta dela , é muito boazinha”.
Foi quando passei para quinta série e tive que mudar de cidade, as pessoas eram estranhas , esnobes, o que era criativo da minha parte era ridículo para elas e, mesmo eu não sendo tão feia assim me fechei no meu mundo infantil, brinquei de barbie sozinha até os treze anos. 



Na escola, o importante era tirar nota para que os outros não me achassem burra, mas como se na sala eu vivia no mundo da lua? só tinha uma saída, decorar. Era isso que eu fazia decorava tudo e toda a véspera de provas era o mesmo nervosismo, choros , um inferno…mas até o terceiro ano meu plano deu certo , não peguei nenhum exame …que legal , a nota ta no boletim, mas a minha mente essa não sabia para onde seguir. 
A única certeza que tinha quando escolhi um curso superior era que gostava de humanas..e aí pai faço direito ou psicologia? Faz direito filha, tem concurso e você vai ganhar mais dinheiro, fechou, profissão escolhida. 
Mas e agora , decorar a matéria da escola não foi fácil, como decorar livros e livros de direito, me posicionar perante situações, morar fora de casa? a época mais gostosa da juventude foi um dos mais ásperos da minha vida, me cobrava muito e por esse método claro que o resultado foi catastrófico, mais chororos e mais insegurança. 
Pensei em largar o curso, entretanto, o “apoio familiar” foi muito importante para que eu desse continuidade. Nunca deixei de levar os estudos a sério, mas estava cansada da vida tão chata que levava , aos 19 anos virei adolescente (um pouco atrasada eu acho, mas meu ritmo sempre foi mais devagar mesmo). 
Aprendi a beber de verdade, festava muito, as pessoas passaram a ser legal comigo ou talvez eu passei a ser legal com elas.
Comecei a reparar na minha imagem, antes comia doce o dia todo, agora não, eu precisava ser magra, pessoas interessantes e bonitas são magras, não sei se era realmente isso que eu pensava das pessoas, mas comigo dali pra frente teria que ser assim. 
O tempo foi passando e finalmente estava no último ano do curso, pilhada, com faculdade, estágio (tinha feito uma prova e conseguido um estágio remunerado), TCC, academia, espanhol,  OAB, a vontade de encontrar um namorado e os diversos pensamentos que me cercavam. 
Minhas amigas todas estavam namorando, tive que me virar para fazer novas amizades, isso até foi um ponto bacana, se novas amizades não fosse na minha concepção sinônimo de muita bebedeira, o que me gerava arrependimentos e pensamentos negativos no outro dia, a chamada ” ressaca moral”. 
Ainda não tinha uma boa relação com a comida, sentia culpa em tudo que comia, mas agora começaram as compulsões alimentares , comia comia comia e tentava vomitar ou tomava laxantes …foi quando conversando com uma amiga resolvi procurar uma psicóloga. 
Quanto mais sessões eu fazia mais sessões eu tinha que fazer minhas dúvidas e incertezas eram muitas e sempre saia de lá com muitos pensamentos e associações. 
As coisas foram piorando, enlouqueci , cheguei a ir no fórum três horas da manhã pra terminar processos, confundia as pessoas dos processos criminais com as pessoas da rua, tinha medo delas.
No começo o sono era intenso, não conseguia fazer mais as minhas atividades noturnas e também comecei a ter crises de choro . 
Sim a depressão me pegou, logo eu que achava isso  frescura, que coisa mais estranha, vontade de nada , olhar para o teto e chorar, quando saia de casa parecia uma doida , não penteava o cabelo e não estava nem aí pra ninguém.
Com o apoio de alguns amigos e da família consegui sair dessa, terminei a faculdade e aos poucos fui voltando ao meu ritmo normal. 
Seria tudo maravilhoso se eu tivesse parado nesse ritmo, mas não foi o caso, passei a acelerar meus pensamentos, queria ajudar todo mundo ( tudo mundo mesmo, até um mapa múndi eu comprei para ajudar o tiozinho da rua, o que eu iria fazer com aquilo não sei) , tudo virava história até uma lâmpada que achei no lixo levei para casa , queria que todos que a esfregassem tivessem seus desejos realizados. 
Enfim , foi uma loucura tão estranha (loucura estranha é ótimo, se foge do normal claro que é estranho, mas o que é normal?)  que via vultos, ouvia vozes que me guiavam, meus sentidos estavam aguçados quando comia carne do Mc ‘Donalds sentia gosto de esterco (mesmo nunca tendo comido esterco na vida), assistia cenas de outras encarnações e tudo isso só poderia me levar para um lugar, exato, uma clinica psiquiátrica.  
Foi uma das sensações mais estranhas da minha vida acordar em um lugar que eu não conhecia, com pessoas que eu nunca tinha visto na vida, pra mim todas as enfermeiras pareciam ser iguais e por isso as chamava de Ju (acho que uma delas deveria ter esse nome ). Hoje analisando essa situação a conclusão que tenho é que todas as pessoas deveriam passar um tempo numa clinica, conheci senhoras que me adotaram como filha e a única coisa que precisavam era de carinho e atenção… alguns doidinhos sim (uma delas equilibrava o pote de achocolatado na cabeça e pedia café o dia todo), mas quem não é ? rapazes lindos que estavam ali para se recuperarem das drogas (um inclusive tinha uma Nossa Senhora tatuada nas costas todas, poxa isso que é buscar ajuda..não naquela época eu ainda não tinha fé).
Perdi minha colação de grau e a formatura foi uma coisa muito nada a ver , todos me vigiando e me seguindo e eu sem entender nada..ainda estava muito distante de saber o que era a “realidade”. 
Hoje já se passaram sete anos que tudo isso aconteceu e agradeço todos os momentos, evoluo a cada dia com as minhas indagações. Trabalho um pouco com direito, sou vegetariana, curso psicologia, sim estou berando os trinta e ainda solteira, às vezes ainda exagero um pouquinho na cervejinha (adoroooooo) , mas acredito que nada é por acaso e se foi dessa forma que o acaso me encontrou não quero entender, quero mais é viver essa loucura chamada VIDA !!!! Descreva a sua experiência de superação ou sobre como está lidando com algum problema psicológico, doença, limitação, etc, e envie para nós para ser publicado aqui em nosso blog. Contar a sua experiência pode ajudar você a desabafar e receber apoio de outras pessoas que também estão passando pelo mesmo problema. Envie o seu relato para: psiconlinebrasil@hotmail.com

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