A importância do sono para a memória e a saúde mental

por Eric Haseltine

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Preste atenção para seu bumbum.

Se você estiver lendo isso sentado, preste atenção para a parte inferior de suas costas e para a parte inferior de suas coxas em contato com a cadeira. Agora observe que, até que eu chamasse a sua atenção para isso, você não estava ciente do que estava acontecendo com seu bumbum e coxas.





Esta mesma falta de consciência se aplica para a maioria das sensações processadas em seu cérebro. Você não presta atenção no atrito de suas roupas contra seu corpo ou dos sons ao fundo, como o zumbido de sua geladeira, ou na mudança de temperatura da sua respiração cada vez que você respira (o ar que entra é sempre mais frio do que o ar que sai). Da mesma forma, enquanto você lê, uma enorme quantidade de informação visual em sua visão periférica passa despercebida.

Seu cérebro automaticamente joga toda esta informação sensorial em uma lata de lixo mental para que nada atrapalhe a percepção, o pensamento ou a memória.

Amanhã você pode se lembrar das sensações em seu bumbum e coxas, ou na sensação da sua respiração hoje, porque eu fiz você prestar atenção para isso, mas você não se lembra destas sensações semelhantes que aconteceram durante todos os anos da sua vida porque seu cérebro os eliminou antes que pudessem ser armazenados.

Mas as sensações não são as únicas informações que o seu cérebro envia para a lixeira de re-ciclo.





Pense sobre a sua vida regressa: Se você escolher qualquer dia aleatoriamente, digamos, 12 de agosto de 2013, é muito improvável que você consiga se lembrar dos eventos que aconteceram naquele dia, a menos que você use um calendário e tente se lembrar sobre onde você estava e o que estava fazendo. Mesmo depois de fazer este exercício, você provavelmente só vai recordar de fatos vagos: “Aquele dia era uma segunda-feira, então eu provavelmente estava no trabalho e, provavelmente, andando para cima e para baixo“, etc.

A triste verdade é que você não se lembra da maior parte da sua vida porque – da mesma forma que a pressão sobre o seu bumbum – o seu cérebro jogou a maioria das suas experiências de vida em uma lata de lixo e, em seguida, eliminou o que pôde.

Sim, você se lembra do dia em que se formou no colegial, casou-se, teve um filho, perdeu o pai ou assistiu a queda do world trade center – algumas coisas escapam da lata de lixo. Mas a maioria dos dias da sua vida são como uma névoa vaga ou desapareceram completamente.

Como é que o seu cérebro decide o que manter e o que jogar fora?

Um rápido experimento irá fornecer as respostas: Pegue um lápis e um papel e, em seguida, passe os olhos rapidamente sobre cada uma das nove imagens abaixo, mas sem ficar mais de 3 segundos para olhar o conjunto completo, ou 1 segundo por linha de imagens. Em seguida feche os olhos e conte até 20. Agora abra os olhos e, sem olhar de volta, faça uma breve descrição sobre as imagens que você se lembra.

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A probabilidade é que você não se lembre de todas as imagens, mas mesmo se conseguir, as primeiras imagens da sua lista provavelmente serão: o coelho com a bolacha na cabeça, a onça no galho, o edifício com uma árvore crescendo para o lado de fora, e o músico do século 17 com uma guitarra.

Por quê? Porque essas imagens representam uma fuga do “normal”, enquanto as outras imagens não são tão incomuns. Você se recorda de detalhes sobre nascimentos, óbitos, e das notícias importantes pela mesma razão: Elas representam um importante rompimento com o fluxo normal da sua vida

Em outras palavras, o seu cérebro gosta de pendurar as informações “anormais”, enquanto as informações ´´normais´´ vão para o lixo.

Seu cérebro faz isso porque a retenção dos dados “anormais” mantém você longe de problemas. Eventos que são ocorrências diárias raramente lhe causam problemas, pois você pode prevê-las e se preparar, como o tráfego na hora do rush, o tempo no inverno, e até mesmo os motoristas bêbados e irresponsáveis na véspera de Ano Novo. O que pode ameaçar o seu bem-estar são os eventos mais imprevisíveis, para os quais você não está preparado, como um assalto na parte “segura” da cidade, uma tempestade repentina em um dia ensolarado … ou uma onça descansando em um galho de árvore no seu bairro.

Por isso, faz todo sentido que o seu cérebro remova as memórias “normais”, de modo que elas não atrapalhem a informação “anormal”, que poderia evitar surpresas desagradáveis. É incrível como o nosso cérebro funciona, ele só consegue armazenar, e recuperar rapidamente, quantidades limitadas de informação; por isso é importante que as informações armazenadas ajudem a maximizar nossas chances de sobrevivência.

Pesquisas recentes sugerem que a remoção do lixo mental é tão importante que não acontece passivamente, pela deterioração gradual, mas é um processo ativo em que o cérebro apaga seletivamente as lembranças que acredita serem de pouco valor. O neurocientista Oliver Hardt, da Universidade McGill, descobriu recentemente que este processo de apagamento seletivo da memória ativa ocorre enquanto dormimos.





Parece que vamos para a cama sabendo mais do que quando acordamos no dia seguinte, mas o que nos lembramos na manhã são apenas as coisas importantes.

Você não precisa deixar o seu cérebro tomar suas ´´decisões automáticas´´ sobre o que deve ser removido para o lixo se achar que ele está apagando mais lembranças do que você gostaria. Você pode intervir para reter mais memórias “manualmente”, e dizer ao seu cérebro o que deve ser armazenado. A maneira mais simples de fazer isso é prestar muita atenção aos detalhes que você deseja guardar. Seu cérebro não vai jogar fora os dados que você perceber ativamente. Seu cérebro também irá manter a informação que você repete ocasionalmente (como um número de telefone que alguém lhe deu). Finalmente, se houver memórias especiais que você deseja manter – como um período de férias agradável – reveja essas memórias muitas vezes. Cada vez que você acessa uma memória, o seu cérebro toma conhecimento e vai evitar apagá-la quando você dormir.

De uma forma ou de outra, você pode preservar algumas memórias dizendo ao seu cérebro que elas são importantes.

Ron Davis, do Instituto de Pesquisa Scripps, analisou os neurotransmissores envolvidos na formação da memória e esquecimento, e concluiu que a dopamina desempenha um papel ativo no processo de apagar memórias sem importância tão logo elas sejam formadas. De acordo com Davis:

“O estudo sugere que quando uma nova memória é formada, há também uma forma ativa de esquecimento, à base de dopamina, que começa a apagar as memórias que não têm importância. Este processo é conhecido como consolidação“.

Fonte: PsychologyToday traduzido e adaptado por Psiconlinews

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