6 frases que revelam pseudo-psicólogos e falsos terapeutas

A internet é um ambiente sobrecarregado de informações onde as ideias se proliferam e algumas teorias de eficácia duvidosa se multiplicam. Charlatões, falsos psicólogos e personagens com delírios de redenção espiritual se utilizam dessa ferramenta para difundir suas concepções de saúde mental, colocando em risco a saúde das pessoas. Mas, como reconhecer um charlatão? Analisamos inúmeras páginas da web dedicadas a supostas teorias revolucionárias e encontramos as 6 frases mais comuns utilizadas por esses falsos profissionais:


1. “Remédios não servem para nada”

Existe uma crença popular que diz que as doenças são causadas pela ciência médica e que o objetivo da medicina é manter as pessoas doentes. Episódios históricos como a peste bubônica na Europa ou a epidemia de varíola que quase acabou com os astecas na chegada dos espanhóis, foram convenientemente esquecidos pelos promotores desta teoria. Alguns charlatões citam duas ou três referências de Foucault para alegar que a medicina mata e que eles não. Esse argumento é tão válido quanto garantir que o tabaco não mata porque é natural.

Na verdade o tratamento medicamentoso não resolve o problema psicológico em si, mas em alguns casos é fundamental para que o paciente consiga manter a sua rotina enquanto resolve seu problema com a psicoterapia.

2. “Para curar a doença deve-se curar o corpo e a alma”


A dualidade corpo-alma permanece como fundamento de muitas abordagens psicológicas ultrapassadas. Para a ciência da saúde, está mais do que claro que o homem é um ser psicofísico e não existe uma divisão corpo/mente, assim como o corpo influencia algumas funções mentais, a mente influencia algumas funções físicas. Essa interação não permite uma análise de causa-efeito, mas de ”variáveis determinantes do fenômeno”, das quais as funções físicas se incluem como possibilidade. Como este sistema é muito complexo para charlatões, é mais fácil recorrer à ”alma”, ”energias” ou a outras entidades às quais atribuem todo tipo de capacidades sem precisar dar maiores explicações. São os chamados ”todos teóricos” e funcionam como ”tapa buracos” de uma teoria: podem fazer tudo, mas o teórico não sabe explicar ”como” fazem.

3. “Você vai se curar no seu tempo, não posso violar leis universais”

As leis universais, as regras eternas, os axiomas naturais, as informações cósmicas e outros conceitos do gênero se tornaram populares e foram inseridos de forma irresponsável pela mídia, sendo tratados como verdades inquestionáveis e absolutas. A aceitação dessas ideias produziu um alto nível de fanatismo, especialmente porque basta rever algumas delas para percebermos que seu fundamento é totalmente exotérico. Pautados nestas ideias, esses falsos profissionais se utilizam da noção de cura. Mas, o que acontece quando baseamos um processo terapêutico numa ação esotérica? Nada. Por isso é pedido um tempo longo e indeterminado para se alcançar o estado de cura do paciente. Esses charlatões são como o Rei de O Pequeno Príncipe, que alegou que todo o universo lhe obedecia. Quando o príncipe pede ao Rei magnífico que prove o seu poder, o Rei pede ao sol “Sol: se ponha!”. À medida que o sol nunca se punha, O Pequeno Príncipe questionou o Rei: “Por que o sol não obedece?”. Ao que o rei respondeu: “Ele obedecerá quando for o momento.”

4. “Não faço anotações ou análises, trato do presente e não do passado”

Muitos movimentos de pseudo-psicologia ou abordagens falaciosas de psicologia se caracterizam pela rejeição absoluta dos métodos de descrição e coleta de informações clínicas, sob o pretexto de que ”o importante é o seu bem-estar atual e não os seus problemas do passado”. Ignoram registros médicos, notas de progresso e herança familiar porque acreditam que isso tem algum tipo de efeito terapêutico, pois, segundo eles, “se você não se lembrar de algo é como se nunca tivesse existido”. Para um charlatão, dedicar tempo para fazer a coleta, análise e descrição de informações clínicas é um desperdício de tempo.

5. “Após a sessão, não tente pensar no que aconteceu, o tratamento vai fazer efeito no tempo certo”, ou “Para que isso funcione você tem que deixar de pensar e começar a sentir.”


O pensamento crítico é o grande inimigo de charlatões, pois eles manipulam seus pacientes fazendo-os  acreditar na ideia de que pensar ou questionar é errado ou prejudicial ao tratamento. Desta forma, nos deparamos com pseudo-terapias que asseguram que o processo de ação é tão profundo e pessoal que se a pessoa tentar entender ou explicar o que aconteceu, o efeito simplesmente se perderá. Essa ideia se parece muito com o mito do homem que sempre sabia qual o número da loteria iria ganhar, mas se comentasse com alguém ou usasse esse conhecimento, o número vencedor mudaria para outro. Todos os pacientes têm o direito a uma segunda opinião, ao consentimento informado e a fazer quantas perguntas forem necessárias para compreender o seu tratamento.

6. “Se não funcionou é porque você não seguiu o tratamento corretamente”

Finalmente, os tratamentos promovidos por charlatães têm uma garantia de 100%, dependendo apenas de um pequeno detalhe: se o tratamento não der certo, a culpa foi sua que falhou em alguma etapa do tratamento. Isso é totalmente oposto à simplicidade e clareza com que se explicam as variáveis que compõem um fenômeno. Muitos tratamentos pseudo-psicológicos se baseiam em teorias sem fundamento ou são tão complicadas que nem eles mesmos conseguem explicar com clareza. Como na Idade Média, os fenômenos da eletricidade estática eram tão espetaculares que os alquimistas usaram para assombrar as massas, hoje nos deparamos com falsos terapeutas que se utilizam de outros ramos da ciência, como a mecânica quântica, a teoria das cordas, os alelos genômicos, e até mesmo dos ”priões” para travestir suas teorias com um falso ”fundamento científico”, e justificarem a sua “complexidade”.

Se você é um paciente e ouvir de um auto-proclamado ”profissional” algo parecido com alguma destas frases, é praticamente certo de que se trata de um charlatão. Se você é um psicólogo e estiver à procura de novos horizontes de especialização, preste atenção nas frases que a abordagem do seu interesse promove para evitar cair em falsas teorias psicológicas.

Fonte: www.psyciencia.com

About the Author Taiz de Souza

Apaixonada por psicologia, se dedica a pesquisar continuamente os assuntos mais atuais e variados relacionados a psicologia a fim partilhar artigos interessantes e confiáveis a todos que apreciam.

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