Suicídio: Uma solução permanente para um problema temporário

Há um antigo ditado – “o suicídio é uma solução permanente para um problema temporário”.

A autoquíria, palavra que descobri por acaso lendo resumos de filosofia, trouxe-me à reflexão de direito ao fato como uma eminente necessidade humana, sobretudo num processo de análise e busca de si mesmo.





Para Platão, que fora opositor ao suicídio, este seria um ato lícito se motivado por covardia, ou seja, um ato reservado aos covardes. Lanço a suposição de que para Platão foi necessitado então uma elaboração cautelosa do episódio de seu mestre Sócrates com o cálice de cicuta. Qual a dose de estoicismo Platão necessitou para interpretar este fato, procurando então uma alternativa à covardia? Uma vez que para os estoicos, a autoquíria era vista como uma opção legítima do indivíduo quando este encontrava-se impedido de gozar uma vida plena e vigorosa – este deve ter sido o caminho que ele usou para interpretar ou aceitar o ato de seu mestre.

Para os estoicos, a partir do filósofo romano Sêneca por exemplo, a vida seria uma melhor alternativa à morte. Mas a decisão sobre a própria vida dependeria de situações circunstanciais: “um sábio que se encontrasse escravizado ou doente, e portanto impedido de ter uma vida plena, tinha todo o direito de optar por cessá-la.”

Quando não nos encontramos, não vemos sentido nessa existência, quando não há vontade de agir e buscar virtuosismo algum, quando nos sentimos escravizados, se torna uma obviedade a falta de plenitude e gozo em viver. A angustia se sobressai, o sentido se esvai e desta forma – o suicídio é um dever.





Reconheço que falar de morte e de suicídio é um tabu. Recorri ao estoicismo para relembrar do direito às escolhas e passei então pela morte física como um recurso provocativo. Confesso que o suicídio a que me refiro como dever é que solicita uma desconstrução de si mesmo. Isso me parece uma tarefa possível através de um processo analítico oportunizado pela psicanálise que nos possibilita cometer metaforicamente uma “autoquíria psíquica”. Ou seja, que seja possível nos reconstruirmos de maneira a permitir as possibilidades para uma vida plena.

Certo, difícil desconstruir-se, mas estoicamente precisamos entender que há esta opção, apesar de nos colocarmos dia a dia na situação perfeita de uma não desconstrução, da não morte, por princípios, por conforto, por tabu. A desconstrução, primeiro esvazia, fica só o que é nosso. Talvez o que de verdade pertença à minha essência, antes mesmo do “eu” enquanto “construto biopsicossocial”, e somente a partir dela, desta essência, é que seja possível renascer.

O romeno Emil Cioran, dizia que: “Meditar sobre ele {o suicídio} torna-nos quase tão livres quanto o ato mesmo”.

por Alessander Oliveira (Aless)

About the Author Aless Oliveira

Alessander Pires Oliveira - Formação e vocação em Ciências da Computação, também apaixonado por psicanálise, tocar guitarra e design. Providenciando o Bacharelado em Psicologia ;-) "Não compartilho meus pensamentos por que penso que vou mudar a cabeça das pessoas que pensam diferente. Eu os compartilho para mostrar as pessoas que pensam igual a mim, que não estão sozinhas."

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