A agressão verbal machuca, no mínimo, tanto quanto a agressão física: Repreensões, xingamentos, gritos, insultos, ameaças, ridicularizações, humilhações, e críticas podem ser tão prejudiciais quanto um abuso físico ou sexual, observa um relatório na edição de abril da Mental Harvard Health. O relatório sugere que quando a agressão verbal é constante e grave, ele cria um risco de transtorno de estresse pós-traumático, o mesmo tipo de colapso psicológico muitas vezes experimentado por soldados.
A pesquisa em que o relatório se baseia aponta ainda que crianças que são alvos de maus tratos verbais frequentes apresentam taxas mais elevadas de agressão física, delinquência e problemas sociais do que outras crianças.
Outras pesquisas associaram a agressão verbal na infância com um risco significativamente maior de desenvolver uma personalidade instável, irritada, comportamentos narcisistas, transtornos obsessivo-compulsivo e paranoia.
“A agressão verbal pode também ter consequências mais duradouras do que outras formas de abuso, porque geralmente é contínua”, afirma Teicher. “E em combinação com o abuso físico e a negligência, pode produzir o resultado mais terrível. No entanto, agências de proteção à criança, médicos e advogados estão mais preocupados com o impacto do abuso físico ou sexual”.
Esta situação incentivou Teicher e suas colegas – Jacqueline Samson, Ann Polcari, e Cynthia McGreenery – a fazer um estudo comparando o impacto da agressão verbal na infância, tanto na presença quanto na ausência de abuso físico e sexual e exposição à violência familiar.
Os pesquisadores recrutaram 554 jovens, com idades entre 18 a 22 anos, para responderem um questionário. Cerca de metade eram mulheres; a maioria era branca. Todos eles preencheram questionários sobre a infância e abuso verbal.
Uma pessoa que ilustra muito bem o perfil dos entrevistados é Ângela, uma caloura da faculdade de 18 anos de idade que participou do estudo depois de ver uma propaganda no metrô direcionada a pessoas que tiveram uma infância infeliz. “Acho que esta é a primeira vez que eu penso sobre essas coisas tão a fundo em toda a minha vida”, disse ela, “e com certeza é a primeira vez que eu falo sobre isso”.
Os pesquisadores descobriram que a agressão verbal tem efeitos tão graves quanto os maus tratos físicos ou a violência sexual. Descobriram também que a agressão verbal por si só é um fator de risco particularmente forte para a depressão, a agressividade e transtornos de dissociação.
As descobertas levantaram a possibilidade de que a exposição à agressão verbal pode afetar o desenvolvimento de certas regiões cerebrais em indivíduos susceptíveis. Independentemente do estado de saúde mental, jovens maltratados na infância apresentaram reduções de 6% em duas partes do hipocampo, em média, e de 4% nas regiões chamadas subiculum e presubiculum, em comparação com pessoas que não tinham sofrido abusos verbais.
É aí que este estudo começa a unir pontas soltas observadas em pesquisas anteriores. Os dados anteriores sugeriam que os altos níveis de hormônios do estresse causado pelos maus-tratos infantis poderiam danificar o hipocampo, o que por sua vez poderia afetar a capacidade dessas pessoas de lidar com o estresse mais tarde. Em outras palavras, o estresse no início da vida torna o cérebro mais resistente aos efeitos do estresse mais tarde.
Porém, ainda há esperança. O cérebro é muito “plástico” – é capaz de mudar sua resposta às experiências, especialmente àquelas experiências repetidas e marcadas. Além disso, o cérebro é muito mais plástico durante a primeira infância. A identificação das agressões e a intervenção precoce tem a capacidade de modificar a influência no desenvolvimento das crianças abusadas e negligenciadas em muitos aspectos positivos.
Os elementos de uma intervenção bem sucedida deve ser guiada por princípios fundamentais do desenvolvimento cerebral. O cérebro muda sua forma dependendo do modo que é utilizado. As intervenções terapêuticas que restauram a sensação de segurança e controle são muito importantes para a criança gravemente traumatizada.
“Possíveis consequências incluem o apego inseguro com os outros, sentimentos negativos sobre si mesmo, pior funcionamento social e baixa auto-estima”. O pior é que, de acordo com Teicher, “tais possibilidades não são mutuamente exclusivas”.
A pesquisa de Teicher, até então inédita, mostrou que a exposição ao abuso verbal afeta certas áreas do cérebro. Estas áreas estão associadas a alterações ao QI verbal, bem como aos sintomas de depressão, de dissociação, e de ansiedade.
Palavras duras ocasionais não irão traumatizar uma criança para a vida, mas a contusão verbal frequente pode ser tão ruim quanto pauladas e pedradas, e podem quebrar ossos.
Fonte: PsychologyToday traduzido e adaptado por Psiconlinews