Depressão: A psicologia implícita em Harry Potter

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Creio que a maioria de nós não teve os pais assassinados por um bruxo das trevas, no entanto, a maioria já experimentou a dor da perda de alguém ou de algo valorizava. Essa é a história de Harry Potter. Desde o começo da saga percebemos a dor da depressão, da perda e do trauma que Harry Potter precisa lidar.

Lord Voldemort, que muitos acreditam ser uma versão fictícia de Adolf Hitler, assassinou os pais de Harry quando o menino tinha apenas um ano de idade. E por mais terrível que isso possa ser, a história de Harry estava apenas começando. Após a morte dos pais, Harry vai morar com parentes nada gentis, os Dursley, eles o deixam passar fome e o abusam de forma física e emocional.

Aos 11 anos de idade Harry descobre que é um bruxo e apesar de todos os esforços dos Dursley contra, Harry entra na escola de Hogwarts, uma escola voltada para o ensino de magia e bruxaria. No entanto, quando Voldemort retorna, cabe a Harry e seus amigos impedi-lo de possuir o mundo dos bruxos com as forças das trevas. Nas várias tentativas de impedir Voldemort, Harry e seus amigos arriscam suas próprias vidas e passam por perdas excruciantes.

No terceiro livro da série, “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, Harry conhece pela primeira vez os Dementadores, criaturas terríveis que consomem a almas. Os Dementadores sugam as memórias felizes, deixando a pessoa sem esperanças e devastada emocionalmente. Eles geralmente atacam pessoas que tenham uma bagagem emocional muito forte, por isso não é surpreendente que tenham um efeito tão forte sobre Harry, que passou por mais traumas na infância do que a maioria das pessoas. Quando os Dementadores estão perto dele, Harry é capaz de reviver o momento específico em que sua mãe foi assassinada. Ele é capaz de ouvir a voz de sua mãe implorando pela vida.

Os Dementadores além de reavivar os traumas de Harry também o paralisam. Nas primeiras vezes que ele os enfrenta, acaba perdendo a consciência e fica indefeso na luta. Por mais estranho que esta reação possa parecer para alguma pessoas, isso serve muito bem de metáfora para ilustrar os efeitos da depressão profunda. Alguma vez em sua vida você já se sentiu tão oprimido pela depressão a ponto de não conseguir se mover? Ou teve a sensação de que o mundo ao seu redor era muito escuro, vazio e sem esperança? Ou que nada adiantava ser feito, pois nada iria mudar? A verdade é que muitos de nós se sentem assim. JK Rowling (autora dos livros), propositadamente descreveu os Dementadores desta forma, como uma espécie de torturador mental que nos obriga a experimentar nossas dores emocionais mais excruciantes. JK Rowling conhece muito bem a depressão, pois já teve que lutar contra ela.

Para muitas pessoas a dor emocional pode ser muito mais angustiante do que a dor física. No terceiro livro, Harry precisa enfrentar um bicho-papão que adquire a forma daquilo que a pessoa mais teme no mundo. Para Rony, o melhor amigo de Harry, o bicho-papão tomou a forma de uma aranha, pois era o que ele mais temia, já para Harry, em vez de tomar a forma do Lord Voldemort, o assassino de seus pais, o bicho-papão tomou a forma de um Dementador, indicando que o que Harry mais temia eram as emoções obscuras que surgiam quando estava na presença deles. Só quando Harry aprendeu a se concentrar em uma memória feliz do seu passado para evocar o encanto Patronus, é que foi capaz de derrotar os Dementadores.

Desde o começo a função dos Dementadores era simbolizar o Transtorno Depressivo Profundo, vamos analisar essa psicopatologia, como ela ocorre e como podemos aprender a evocar os nossos próprios ”encantos Patronus”, a fim de lidarmos melhor com a depressão.

A depressão profunda é um distúrbio de saúde mental que afeta grande parte da população mundial. Esse transtorno é caracterizado por tristeza persistente, fadiga crônica, perda de interesse nas atividades, desesperança, desequilíbrio no peso corporal, alterações no sono, dificuldade para se concentrar e pensamentos suicidas.

Alguém que está deprimido geralmente acredita que a sua vida nunca irá melhorar, não quer mais sair da cama ou participar de atividades sociais. O perigo é que o nosso cérebro reage a essas situações imaginadas como se elas realmente estivessem acontecendo. É quase como viajar no tempo mentalmente. Se imaginarmos que as coisas vão continuar sendo sombrias no futuro, o nosso cérebro interpreta que isso é verídico no presente e age em conformidade. Da mesma forma, o passado influencia na depressão. Se nos lamentamos por nossos erros e perdas frequentemente, isso pode contribuir para agravar a depressão. Em ambos os casos, a falta de atenção consciente e focada no presente contribui para o aumento da depressão.

Uma perfeita ilustração desse processo pode ser visto no primeiro livro “Harry Potter e a Pedra Filosofal”. Quando Harry descobre o Espelho de Ojesed, que mostra ao espectador o que ele ou ela mais deseja no mundo, ele enxerga os seus pais no reflexo. Apesar do fato de Harry inicialmente estar animado por vê-los, ele é atingido pela verdade incontestável de que seus pais estão mortos. Quando o Professor Dumbledore o encontra olhando para o espelho, ele o informa de que muitas pessoas enlouqueceram olhando para ele, ficaram tão perdidas em seus desejos que se escaparam do presente. “Ele não foi feito para as pessoas viverem em seus sonhos e se esquecerem da realidade”, disse Dumbledore.

Outro comportamento que pode contribuir negativamente para a depressão tem a ver com o nosso desejo de tentar controlá-la ou livrar-se dela se envolvendo em atividades que visam tirar o foco da depressão. Essas atividades podem reduzir temporariamente as emoções dolorosas que acompanham a depressão, mas, em última análise, agravam-na. Basta tomarmos o exemplo de Severus Snape.  Severus certamente tinha um longo histórico de traumas: seus pais o negligenciaram, sofria bullying por parte de seus colegas, sua melhor amiga, e também o grande amor de sua vida, Lily Evans, casou-se com o seu pior inimigo, James Potter, o pai de Harry. Um tempo mais tarde eles foram assassinados por Voldemort e Severus passou a se culpar por isso, porque foi ele quem falou para Voldemort sobre a profecia que dizia que ele seria derrotado por uma criança, fazendo com que o Lorde das Trevas matasse os pais de Harry.

Devastado pela sua perda, Snape manteve toda a dor dentro de si, escondeu-se em seus pensamentos, evitava se aproximar das pessoas e de seus sentimentos, evitava o sofrimento. Essa atitude até conseguiu evitar com que ele se machucasse, no entanto, manteve sua depressão. Podemos provar dos sentimentos de uma pessoa ao nos conectarmos com ela, dessa forma tomamos consciência de que precisamos melhorar. Como Dumbledore disse uma vez: “A compreensão é o primeiro passo para a aceitação, e só com a aceitação pode haver recuperação”.

Às vezes podemos ter tanto medo de falhar que acabamos nem tentando. Quando uma oportunidade chega, podemos ter muito medo de pegá-la, por nos achamos impostores, incapazes de cumprir com o objetivo, achamos que não sabemos nada. Nos acovardamos e não arriscamos, dessa forma só alimentamos o monstro que é a depressão. JK Rowling admitiu que tinha muito medo de fracassar, e só depois de falhar muitas vezes, ela enfrentou o Dementador de sua depressão e conseguiu se recuperar. JK Rowling disse que “O fundo do poço se tornou a base sólida sobre a qual eu reconstruí minha vida”, e acrescentou: “É impossível viver sem falhar em alguma coisa, a menos que você viva tão cautelosamente que se esqueça de viver – e nesse caso, você falha por omissão”.

A melhor forma de lidar com a depressão não é fugindo das sensações dolorosas e seguindo o coração. Não importa o quão assustador, o quão doloroso, ou o quão difícil isso possa ser. Na verdade, numerosos estudos têm demonstrado que quando levantamos da cama e enfrentamos o dia e aceitamos a chance que nos foi dada, mesmo quando falhar é uma das opções, criamos as condições necessárias para nos curarmos. A coisa mais importante é viver a vida de acordo com os nossos valores.

Fonte: SuperHeroTherapy traduzido e adaptado por Psiconlinews

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