Acusações x Justiça: existe equilíbrio?

 

Para falar um pouco sobre acusações e justiça, citarei um filme que fala sobre isso de forma extremamente cuidadosa, mas ao mesmo tempo assustadora! Trata-se do filme “A caça”, lançado em 2012, dinamarquês e premiado em festivais.





O protagonista é Lucas, um homem recentemente divorciado, que espera ansiosamente pela visita do filho no fim de ano. Lucas trabalha em uma creche, onde todas as crianças o adoram, e nas horas de folga gosta de se reunir com amigos para caçar. Tudo corre bem até que uma aluna de 5 anos chamada Klara, filha de seu melhor amigo, diz para a diretora que Lucas mostrou suas partes íntimas a ela. A partir daí, a vida desse professor torna-se um verdadeiro inferno.





No filme podemos observar a entrevista com o psicólogo sendo feita de uma maneira não adequada. Ele a direciona, com perguntas fechadas e já colocando o professor como culpado. Crianças tendem a querer nos agradar e muitas vezes respondem o que acreditam que queremos ouvir. Mesmo a menina respondendo “não” com a cabeça a uma pergunta, após insistência ela acaba por confirmar o que o psicólogo parece querer tanto ouvir. Em apenas uma entrevista de 10 minutos não se pode ter certeza de algo tão grave, ainda mais nessa situação . Outro erro é pressupor que “crianças não mentem”. Sim, crianças mentem, fantasiam, inventam, e quanto mais repetem a fantasia, mais parece que se torna realidade para elas.

O ideal nesse caso seria fazer perguntas abertas, que busquem como foi o dia no geral. Procurar saber o que aconteceu, juntamente com a utilização de técnicas lúdicas, desenhos, realizando uma investigação sobre os fatos. Essa investigação é de extrema responsabilidade! No filme, mesmo depois Klara dizendo que nada aconteceu, todos acreditam que ela esteja apenas em um processo de negação do fato, o que pode acontecer nesses casos.





Enquanto isso, a cidade já julgou e condenou Lucas, não permitindo sua defesa, nem mesmo a dúvida sobre sua culpa. Sua vida entra em declínio e vai desde a demissão da creche até seu linchamento, prejudicando inclusive a vida de seu filho, que nessa altura já está visitando o pai. Essa é a “justiça” que os cidadãos locais consideram correta…

Citei o filme como ilustração, mas a intenção não é fazer uma resenha do mesmo, e sim gerar curiosidade e reflexão sobre a situação. Por isso, paro por aqui e indico que vocês procurem e assistam para saber maiores detalhes.

Agora vamos relacionar o título do texto com o filme… Consegue perceber o quanto podemos ser injustos ao julgar alguém apenas por algo que foi dito ou por aparências? Ao se colocar no lugar de pais que ouvem esse discurso do próprio filho, claro que nos sensibilizamos. Seja denúncia de abuso sexual, de agressão verbal ou física, ninguém quer que seu filho sofra maus-tratos. Dentro de nós surge uma revolta, uma necessidade de justiça e de que o agressor não saia impune, e assim muitas vezes partimos para a “justiça com as próprias mãos”. E é aí que perdemos a razão e o foco. Enquanto você está com “sede de justiça”, a criança está precisando de acompanhamento e, muitas vezes, não o tem porque o foco deixa de ser ela para ser a busca por incriminar o acusado.

Sendo vítima ou não, sendo verdade ou fantasia, quando uma criança surge com esse discurso precisa sim de acompanhamento psicológico. Precisamos levar em consideração tudo que ouvimos, mas temos a obrigação de analisar e investigar. E é nisso que consiste a justiça! Não vamos desacreditar na criança, mas precisamos entender que fantasias acontecem e podem sim ter riqueza de detalhes. Principalmente porque não sabemos a que tipos de informações a criança está exposta… Muitas vezes achamos que ela não está ouvindo nossa conversa por estar “distraída”, e esse é mais um equívoco. A criança ouve, absorve, e em se tratando de um assunto que não entende, fica com o entendimento prejudicado.

Lembrando sempre que julgar e acusar previamente sem provas ainda pode acabar contra você mesmo, pois injúria e difamação são crimes. Dê o benefício da dúvida. Todos somos inocentes até que se prove o contrário, correto?

Corujices da Psi

About the Author Samira Oliveira

Meu nome é Samira Oliveira. Sou Pedagoga e Psicóloga. Especialista em Psicopedagogia, Psicologia Educacional e Psicologia Positiva. Sou também autora de livros voltados para a educação e para a psicologia. O objetivo dos meus textos é trazer informação aos leitores, com uma linguagem de fácil compreensão.

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