Abandono além do senso comum

 

 

Abandono além do senso comum? Como assim?

Quero levar você a pensar…
Fazem pesquisas sobre o quantitativo de filhos sem o nome do pai na certidão, com abandono financeiro e afetivo, e chegam a números realmente assustadores.
Agora, e os órfãos de pais vivos e de corpo presente? Por que o abandono só é levado em conta quando há um afastamento físico do pai/mãe?
Sim, o abandono é algo extremamente doloroso, e isso não está sendo questionado aqui.
Porém, é preciso levá-los a uma reflexão mais profunda sobre o que é o abandono! Não existe apenas o abandono físico, ou financeiro, mas há também o afetivo!

 

Em memes de rede social costumamos ver frases sobre “estar sozinho mesmo rodeado de pessoas”, e o quanto isso pode ser devastador para a saúde emocional…
Muitas de nossas crianças passam por isso todos os dias e, quando têm coragem de desabafar com alguém, ainda ouvem que “pelo menos não foram abandonadas”, que “têm de tudo”, que “deveriam agradecer pelo que têm ao invés de reclamar”. E assim se fecham em seu sofrimento, com danos às vezes irreparáveis…
Uma dor não é maior do que outra. Mas na hora de ouvir um problema de um colega, tendemos a comparar com a dor de outra pessoa, muitas vezes com nossa própria experiência. E assim desqualificamos a dor desse indivíduo.
Conheço (enquanto profissional e ser humano) inúmeras pessoas que se sentiram abandonadas mesmo morando debaixo do mesmo teto!! Pessoas que cresceram sem laço afetivo com quem mais era próximo a elas, que não tinham um colo para serem acolhidas em momento de tristeza.
Será mesmo que o abandono físico seria pior? E passar a vida achando que atrapalha a vida dos pais, que está sozinho, que não tem com quem contar? Ter os pais ali “presentes de corpo” é de fato o melhor para o desenvolvimento de uma criança?
E, no caso do abandono afetivo, o número de mães pode ser surpreendente!

 

Mães? Sim, mães.
Não estou falando de mães que trabalham e/ou estudam, ou que saem para se divertir. Não façam polêmica de algo simples de compreender! Se você passar 30 minutos por dia com seu filho, mas for um tempo de qualidade, exclusivo para ele, dificilmente ele se sentirá sozinho. Aqui estamos falando de algo que infelizmente passa despercebido aos olhos da maioria, algo que está muitas vezes tão velado que as pessoas acham normal.
Além de não se poder falar em abandono afetivo mesmo em presença, também não se pode falar em abandono afetivo por parte de mães. Nossa sociedade causa sofrimento em muitas pessoas por transmitir essa cultura de mãe santificada e perfeita, pois nem todas o são, e ir contra isso é simplesmente um sacrilégio!
O intuito não é cobrar. Imagine ter que cobrar amor e atenção de pai e mãe, o quanto seria doloroso e humilhante.
O intuito é:
– promover a empatia,
– a escuta sem julgamento,
– a percepção de que a sua visão de mundo pode não ser a mais real,
– o respeito pela dor do outro!
 
Enquanto isso, nossas crianças crescem cheias de transtornos, sem amor, e sem saber amar (inclusive a si mesmas).
Se nossa sociedade fosse menos hipócrita, esses números seriam ainda mais alarmantes. E mais filhos poderiam se manifestar sem julgamento, e se curar dessa dor!
Mas preferimos fechar os olhos para a realidade, não é mesmo? Afinal, lidar com ela é doloroso e dá trabalho!
 

About the Author Samira Oliveira

Meu nome é Samira Oliveira. Sou Pedagoga e Psicóloga. Especialista em Psicopedagogia, Psicologia Educacional e Psicologia Positiva. Sou também autora de livros voltados para a educação e para a psicologia. O objetivo dos meus textos é trazer informação aos leitores, com uma linguagem de fácil compreensão.

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